Quem
espera sempre alcança, e os fãs dos quadrinhos nipônicos viram sua paciência
recompensada após praticamente quase dois anos de espera, desde quando a
editora JBC prometeu que lançaria no mercado nacional uma das mais cultuadas obras
da história dos mangás. Pois eis que durante a Comic Com Experience 2016, a
megaconvenção dedicada ao universo pop/nerd, a editora nipo-brasileira
apresentou a edição nacional de GHOST IN THE SHELL, com uma riqueza de
acabamento nos detalhes de deixar qualquer fã de quadrinhos satisfeito. O
anúncio de que a obra criada por Shirow Masamune finalmente seria lançada em
nosso país, durante a CCXP 2016, já havia sido anunciada semanas antes do
evento, e todo o pessoal da JBC trabalhou horas sem fio para garantir que a
edição chegasse impressa a tempo de ser apresentada na convenção que ocorreu na
capital paulista, nos últimos dias 1 a 4 deste mês de dezembro, no bairro do
Jabaquara, zona sul da metrópole.
A
edição nacional compila todos os capítulos do mangá original, criado por Shirow
Masamune, nome artístico do mangaká Masanori Ota, publicado entre 1989 e 1991
na revista japonesa Young Magazine, da editora Kodansha. Lançada no formato 17
x 24 cm, a edição tem 352 páginas, sendo 62 delas inteiramente coloridas, com
papel lux cream, com direito a sobrecapa com 2 cores especiais, além das 4
cores normais que são utilizadas na produção de todas as capas, ao preço de R$ 64,90. A edição não
será vendida em bancas, e terá distribuição exclusiva para livrarias e lojas especializadas.
E
a receptividade dos fãs no estande da JBC, durante a CCXP, para adquirir este
lançamento, foi excelente, com a maior parte da tiragem levada à feira sendo
vendida com incrível rapidez. E os fãs que visitaram o estande da editora ainda
tiveram a oportunidade de acompanhar uma palestra ministrada por Marcelo Del
Greco e Cassius Medauar, gerentes de conteúdo da editora, que explicaram aos
fãs toda a epopéia que a JBC enfrentou para poder publicar enfim o mangá de
Ghost in The Shell no Brasil, com vários detalhes curiosos revelados em
primeira mão para todos os presentes.
Foram
reuniões e mais reuniões, tanto com a Kodansha, como com o autor, para aprovar
todos os pormenores da edição nacional. Um exemplo citado por Del Greco e
Medauar foram sobre as orelhas da edição nacional, que por imposição dos
japoneses, tiveram que ficar em japonês igual ao original. E a quarta capa
(contra-capa) ficou em uma mistura de inglês e japonês (igual ao original) e
com inserções em português. A meticulosidade de exigências chegou ao nível de
se determinar até em quantos milímetros ficariam certas medidas da edição, e
todas elas tiveram que ser acatadas para que a obra tivesse sua publicação
finalmente aprovada e liberada para ser lançada aqui. Outro exemplo de exigência
imposta pelo autor foi a obrigatoriedade de seu nome ser grafado conforme a
ordem de apresentação japonesa, Masamune Shirow, e não Shirow Masamune, como
seria o correto por aqui. No Japão, o sobrenome costume ser dito antes do nome,
ao contrário do costume ocidental. Acontece que o pseudônimo adotado por
Masanori Ota faz referência ao legendário criador de espadas Masamune, e a
inversão da ordem do nome de seu pseudônimo deixaria sem sentido o termo. Por
outras razões, a editora não pode nem mesmo aproveitar o logo da versão animada
do mangá, cuja primeira produção para cinema foi lançada no mercado nacional de
vídeo, primeiro pela Flashstar, e mais recentemente pela Focus Filmes, com o
subtítulo de “O Fantasma do Futuro”. Tanto apuro por parte dos japoneses acabou
atrasando em vários meses o lançamento, e algo que era tido por muitos para ser
lançado até no ano passado, só conseguiu efetivamente sair já neste mês de
dezembro, primeiro com exclusividade para quem esteve presente na CCXP. Aos
poucos, as livrarias e comic shops estão recebendo os exemplares para venda a
seus clientes, bem como começando a estar disponíveis também em algumas lojas
on-line.
A
história de Ghost in the Shell se passa depois do ano de 2029, marcado pelo
surgimento de uma nova tecnologia que permite a fusão do cérebro à computação,
e por tabela, à rede mundial de computadores, marcando uma nova era no que
tange à interação entre o mundo real e o virtual. Com uma ambientação estilo
cyberpunk, o autor foca os acontecimentos mais nas ramificações éticas,
filosóficas e sociais da fusão em massa da humanidade com a tecnologia, com
consequente o desenvolvimento de inteligências artificiais, e a onipresença da
rede de computadores como uma oportunidade para reavaliar assuntos como a
identidade pessoal, a singularidade da consciência e o aparecimento do
trans-humanismo. O fio narrativo da história cobre as atividades desenvolvidas
pela Comissão Nacional Japonesa de Segurança Pública, Seção 9, especializada no
combate a crimes perpetrados com uso da tecnologia, tendo como principal
protagonista Motoko Kusanagi, que ocupa a função de líder tática da Seção 9. Devido
ao fato de seu corpo ser artificial (ela é uma ciborgue, dotada de um corpo
robótico, sendo que apenas o seu cérebro e a coluna medular serem orgânicos), ela
possui capacidades sobre-humanas, podendo executar certas operações que pessoas
comuns nunca conseguiriam. Entre outras habilidades, Motoko tem conectores que
a permitem se ligar à rede, para as mais diversas finalidades.
O
sucesso da série rendeu um longa metragem animado, produzido pela IG
Productions em 1995, com direção de Mamoru Oshii, que tocava fundo no dilema
onde terminava o ser humano e começava a máquina. O filme fez sucesso em
diversos países, e acabou sendo lançado também no Brasil, com o título de “O
Fantasma do Futuro”. Em 2002, Ghost In The Shell ganharia uma série animada
para TV, com 26 episódios, intitulada “Ghost In The Shell: Stand Alone Complex”,
com direito a uma segunda temporada, “Ghost in the Shell: Stand Alone Complex
2nd GIG”, e um especial de vídeo, finalizando a história, em “Ghost in the
Shell: Stand Alone Complex - Solid State Society”. Paralelamente, um novo filme
animado para cinema foi lançado em 2004, continuando os eventos do longa de 1995,
intitulado “Ghost in the Shell 2: Innocence”. De 2013 a 2015, a série ganhou
mais uma versão animada: “Ghost In The Shell: Arise”, com novas aventuras, em
uma nova versão das aventuras. Mas, fora o primeiro longa para cinema, todas as
demais produções animadas permanecem inéditas no Brasil até hoje.
Em
2017, será lançado nos cinemas uma versão cinematográfica estrelada por atores,
tendo Scarlet Johansson no papel da personagem Motoko Kusanagi. Pelos primeiros
trailers divulgados, o visual da produção está bem fiel ao mangá e às animações
lançadas até aqui. O filme também será exibido no Brasil, já tendo o nome
adaptado com o subtítulo “O Vigilante do Futuro”. Tendo finalmente o mangá sido
lançado por aqui, em mais uma excelente iniciativa da editora JBC, é aguardar
pela produção live-action e conferir se ela fará juz à história criada por
Shirow Masamune.
Nenhum comentário:
Postar um comentário