quarta-feira, 29 de junho de 2016

IDW LANÇA EDIÇÃO DEDICADA À ARTE DE JACK KIRBY EM “THOR”



                Não há fã de quadrinhos que não conheça o nome de Jack Kirby, um dos mais prolíficos e famosos desenhistas que já surgiram no mercado de comics dos Estados Unidos. Tendo criado, ao lado de Joe Simon, o principal herói patriótico dos tempos da Segunda Guerra Mundial, o Capitão América, o desenhista foi responsável, junto com Stan Lee, na criação do Universo Marvel no início dos anos 1960, tendo desenhado quase todos os títulos de super-heróis lançados pela editora naquela época, como o Quarteto Fantástico, os X-Men, o Incrível Hulk, o Surfista Prateado, o Homem de Ferro, e muitos outros personagens. E agora, os leitores terão a oportunidade de conferir o brilhantismo de sua arte na mais recente edição da linha “Artist’s Edition”, publicada pela IDW Entertainment, que chega às comic shops americanas neste mês de julho.
                JACK KIRBY’S THE MIGHTY THOR ARTIST’S EDITION HC é um álbum no formato 38 x 56 cm, com cerca de 160 páginas, ao preço de US$ 125,00, e traz na íntegra a arte original de Kirby para o título Journey Into Mistery, título publicado pela Marvel Comics nos anos 1960 onde a editora lançou um de seus mais imponentes e poderosos personagens: ninguém menos do que Thor, o Deus do Trovão, saído diretamente da mitologia nórdica para os quadrinhos. O álgum traz as artes das edições 111, 117, 118, 134 e 135, sendo que estas duas últimas o título já havia mudado de nome para “Thor”, fazendo juz à fama do herói, além da edição Thor Annual N° 02. Além de poder acompanhar a arte original, sem nenhum balão ou onomatopeia, o leitor também poderá conferir uma galeria com 10 capas produzidas pelo artista para as aventuras do Deus do Trovão, e muitas páginas raras e históricas concebidas pelo artista.
                Não é a primeira vez que Jack Kirby, falecido em 1994, ganha um álbum desta linha pela IDW. A editora americana já havia lançado edições compilando o belo trabalho artístico de Kirby na série dos Novos Deuses e do Senhor Milagre, produzidas para a DC Comics. "Eu tive o grande prazer de trabalhar com um dos homens mais criativos dos quadrinhos: o grande Jack Kirby, cujas obras de arte e senso maravilhosa de histórias magníficas, com razão, lhe renderam o apelido de ‘Rei’ Kirby. Ele tinha a capacidade de abordar qualquer tema e torná-lo espetacular de se ver devido ao poder e brilho de sua arte. Se alguma vez um escritor teve o colaborador perfeito, eu tive a sorte de ter tido o brilhante e inimitável Jack Kirby’, disse Stan Lee, parceiro de Kirby nos anos 1960, e roteirista das histórias que ilustram esta edição especial.
Jack Kirby foi um dos artistas mais importantes e influentes na história dos quadrinhos, sendo escritor e um artista inovador, com um legado incomparável. Toda a grandeza e energia que brotam de sua arte é evidente nesta edição, e esta é a visão mais próxima que alguém teria ao olhar por cima do ombro do mestre na sua prancheta de desenho, segundo anuncia a IDW sobre este álbum, que é o primeiro que a editora lança com material produzido pelo artista para a Marvel. "Jack Kirby ainda é o coração visual do estilo Marvel, portanto, ter a oportunidade de experimentar os seus desenhos originais no tamanho em que foram tiradas, com correções e tudo, é uma oportunidade rara e valiosa para qualquer aficionado dos quadrinhos", disse o editor executivo da Marvel Tom Brevoort. "Sem Jack Kirby, os títulos de quadrinhos que conhecemos e amamos não existiriam", disse Scott Dunbier, Editor de Projetos Especiais. "Seu trabalho influenciou e moldou a forma de arte por inteiro. É simples assim", completou.
                Kirby ajudou a conceber o visual dos deuses nórdicos para o título, bem como da cidade dourada de Asgard, com Stan Lee adaptando os conceitos vindos da mitologia para a série de quadrinhos, e Jack Kirby, a exemplo da excelência de seu trabalho nas outras séries produzidas até então, mais uma vez se mostrou à altura do desafio, ilustrando as aventuras de um dos mais poderosos heróis do panteão da Marvel Comics, que forma junto com o Capitão América e o Homem de Ferro a tríade angular do mais poderoso grupo de heróis da editora, os Vingadores. É uma edição, sem sombra de dúvida, para o fã de quadrinhos se deliciar com a arte do “Rei”, que se tornou o modelo a ser seguido por toda uma geração de desenhistas, e que se faz sentir até hoje.

BUD SPENCER, DA DUPLA “TRINITY”, MORRE AOS 86 ANOS



                Quem nunca curtiu um filme da famosa dupla “Trinity” no cinema? Eram filmes de ação com pancadaria estilizada, muitas vezes no melhor estilo do programa de humor de Os Trapalhões, protagonizados pelos atores Terence Hill e Bud Spencer, que fizeram a alegria de muitos ao longo dos anos. Pois Bud Spencer infelizmente acabou de falecer neste último dia 27 de junho, em Roma, na Itália, aos 86 anos. A notícia foi dada por seu filho, confirmando que o ator “partiu em paz”, estando ao lado de sua família.
                Nascido em Nápoles em 1929, Carlo Vicente Pedersoli (seu nome verdadeiro) só foi estrear no cinema em 1951, como um dos coadjuvantes do filme Quo Vadis. O ator ainda atuou em papéis menores em diversos outros filmes, usando seu nome verdadeiro, até estrelar sua primeira produção como protagonista em 1967, no filme “Deus Perdoa... Eu não!”, iniciando no western spaghetti, já com seu nome artístico, Bud Spencer, formado pela inicial de sua cerveja favorita, Budweiser, e pelo nome do ator Spencer Tracy, a quem queria homenagear. Era o início da parceria com o ator Terence Hill, que duraria até 1994, alternando filmes-solo e em dupla. Em 1968, a dupla estrelaria “Assim Começou Trinity - Os Quatro da Ave Maria”, com cada novo filme conseguindo mais sucesso que o anterior, até estourarem de vez em 1970, com a produção “Meu Nome é Trinity”, seguido pela continuação “Meu Nome Ainda é Trinity”, consolidando o sucesso da dupla nos filmes western spaghetti, com a dupla trocando muitos socos e pontapés com os vilões, muitas vezes em situações hilárias. Mas a dupla não se manteria apenas no gênero faroeste, passando a atuarem juntos em diversos outros filmes de ação, mantendo o mesmo estilo de personagens, com Terence Hill interpretando um sujeito bom de briga e trambiqueiro, enquanto Bud Spencer fazia o tipo grandalhão mal humorado e ainda mais bom de briga do que o parceiro, conquistando fãs em todos os lugares onde os filmes eram exibidos, incluindo o Brasil, onde várias produções passaram em nossos cinemas, e depois sendo exibidos na televisão. Na dublagem clássica dos filmes, Bud Spencer acabou sendo dublado por Silvio Navas, que soube dar uma voz marcante ao ator em todo os filmes que teve chance de dublar, enquanto Hill tinha a voz de Newton da Matta.
                Paralelamente ao sucesso dos filmes que estrelava em dupla com Terence Hill, Bud Spencer continuou estrelando alguns filmes-solo, entre eles interpretando o personagem Inspetor Rizzo, da polícia de Nápoles, mantendo o estilo “grandalhão bom de briga e quebra-pau” iniciado nos filmes western, como nada menos do que 4 produções com o personagem. Entre outros filmes, estrelou também “Boot Hill - A Colina dos Homens Maus” (1969), “‎Exército de 5 Homens” (1969), “Corsário Negro” (1971), “Assim é Que Se Faz... Amigo” (1972), “Dá-lhe Duro, Trinity” (1972), “Dois Anjos da Pesada” (1973), “A Dupla Explosiva” (1974), “Dois Missionários do Barulho” (1974), “Charleston” (1977), “Dois Tiras Fora de Ordem” (1977), “Par ou Ímpar” (1978), “Nós Jogamos com os Hipopótamos” (1979), “Quem Encontra um Amigo, Encontra um Tesouro” (1981), “Banana Joe” (1982), “Dois Loucos com Sorte” (1983), “Eu, Você, Ele e os Outros” (1984), “Os Dois Super Tiras em Miami” (1985), “Aladdin” (1986), “A Volta de Trinity” (1994), “Al limite” (1997), “Figli del vento” (1999), “Tre per sempre” (2002), “Cantando dietro i paraventi” (2003), “Padre Speranza” (2005), “Pane e olio” (2008), “Tesoro, sono un killer” (2009), entre vários outros, a grande maioria dos antigos tendo sido exibidos no Brasil, com vários deles sendo lançados no mercado de vídeo (VHS e DVD, posteriormente).
               Em 1984, por ocasião do lançamento de “Eu, Você, Ele e os Outros”, cuja história se passava no Rio de Janeiro, Bud Spencer e Terence Hill participaram do programa dos Trapalhões, sendo entrevistados pelo quarteto de humoristas no programa, onde Bud surpreendeu a todos falando em português, e revelando que já havia morado no Brasil muitos anos antes de começar sua carreira artística, quando foi funcionário da embaixada italiana na cidade de Recife, e com direito a muita troca de sopapos da dupla numa briga com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, com cadeiras quebradas, mesas destroçadas e pancadaria a rodo, no melhor estilo dos filmes de ambos os grupos de artistas.
                O artista, que também era formado em direito, na verdade falava 6 línguas, incluído o português, sendo que no filme “Charleston”, seu personagem era um milionário brasileiro. Em “Eu, Você, Ele e os Outros”, ele faz um papel duplo, passando-se pelo sósia de um dos integrantes de uma importante dupla de empresários brasileiros, que teme ser vítima de criminosos. Ainda na juventude, antes de se dedicar integralmente à carreira artística, Carlo Pedersoli foi campeão de natação, tendo competido pela Itália nas Olimpíadas de 1952 e 1956, sendo o primeiro italiano a nadar 100 metros, em estilo livre, em menos de um minuto, tendo sido também jogador de pólo aquático. O ator também se tornou piloto licenciado de avião e helicóptero, e contribuiu e apoio financeiramente muitas instituições de caridade ao longo de sua carreira.
                Sobre a longa parceria de filmes com Terence Hill, Bud afirmou certa vez que “Terence é como um irmão para mim, e como irmãos que nem sempre concordam, ele pode ser uma dor de cabeça às vezes..(risos)... Nosso relacionamento é parecido com o que mostramos em nossos filmes, mas ele sempre pode contar comigo tanto quanto eu posso contar com ele. Nós sempre gostamos de trabalhar em conjunto, provavelmente por isso que nós fizemos tantos filmes juntos”.
                Curiosamente, o ator também estrelou série de quadrinhos, ao lado de Terence Hill, nas quadrinizações da série Trinity, bem como no título “Speranza e Carità”, que trazia novas aventuras dos irmãos Trinity e Bambino, sempre arrumando novas confusões pelo velho oeste. Uma Graphic Novel começou a ser produzida nos últimos anos, mas sem ter sido concluída até o presente momento, também enfocando a série Trinity. Apesar do sucesso e da fama dos filmes no Brasil, estes quadrinhos permanecem inéditos por aqui até hoje.
                Vá com Deus, Bud Spencer. Uma grande legião de fãs pelo mundo inteiro sentirá a falta do grandalhão bonachão e bom de briga que divertiu inúmeras pessoas ao longo dos anos pelo mundo afora nos inúmeros filmes que estrelou em sua longa carreira artística.

OS QUADRINHOS NACIONAIS PERDEM RODOLFO ZALLA



                Os quadrinhos nacionais estão de luto. Faleceu no último dia 19, aos 84 anos de idade, o desenhista Rodolfo Zalla, um dos mestres dos quadrinhos brasileiros. O artista completaria 85 no próximo mês de julho, e sofria de um câncer descoberto recentemente. Rodolfo nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 20 de julho de 1931, e iniciou sua carreira nos quadrinhos em 1953. Formado em arquitetura, sua grande paixão era mesmo os quadrinhos, e em 1963, devido à forte crise econômica na Argentina, mudou-se para o Brasil em busca de melhores oportunidades profissionais, onde permaneceria por todo o resto de sua vida, dando sequência à sua carreira no meio.
                Zalla começou seus trabalhos com quadrinhos em nosso país produzindo a tira Jacaré Mendonça para o jornal Última Hora, e pouco tempo depois passou a trabalhar para a editora Taika, onde desenhou várias histórias do personagem Targo, um personagem inspirado no Tarzan, além de o Escorpião, um herói que na verdade era um plágio do Fantasma, o que levou o artista a modificar bastante o personagem para que a editora não sofresse um processo de plágio por parte da King Features, dona do herói criado por Lee Falk. Nos anos 1970, Rodolfo passou a produzir quadrinhos didáticos, além de ter sido contratado pela Editora Abril para produzir histórias do Zorro, baseado no famoso seriado de TV da Disney dos anos 1950, durante cerca de 7 anos. O artista também produziu para a editora várias histórias com os personagens da Hanna-Barbera, para as várias revistas que a Abril publicava na época.
                No início dos anos 1980, Zalla criou sua própria editora, a D-Arte, em parceria com Eugenio Colonnese, artista italiano que também se radicou no Brasil. Apesar de pequena, a D-Arte publicou várias obras e lançou diversos artistas no mercado, como Mozart Couto e Rodval Matias, entre vários outros. A editora publicou várias HQs de terror, editando as revistas Calafrio e Mestres do Terror, que se tornaram referência no meio à época, entre outros gêneros de histórias, como o faroeste. Mesmo após o fim da D-Arte, no início dos anos 1990, Zalla sempre permaneceu na ativa, inclusive nos últimos anos, colaborando na reimpressão de obras em que trabalhou.
                Em 2005, a editora Opera Graphica lançou o livro "O Desenho Magnífico de Rodolfo Zalla", onde o artista ensinava suas técnicas de desenho. Em 2010, Zalla desenhou um álbum sobre o médium Chico Xavier, com roteiros de Franco de Rosa, publicado pela Ediouro, além de ter feito outro álbum outro sobre o ex-presidente Lula, escrito por Toni Rodrigues e publicado pela Editora Sarandi. No ano seguinte, a Editorial Kalaco publicou histórias de guerra produzidas pelo artista na década de 1960, que eram inspiradas no material da revista "Blazing Combat", da editora americana Warren Publishing, boa parte do material tinha sido censurado pela Ditadura Militar na época, o que descontinuou o projeto de produção de histórias nacionais sobre o tema. Ainda em 2011, a editora CLUQ retomou o lançamento da revista de terror Calafrio, continuando a numeração original, por mais 12 edições, trazendo sempre material produzido por Zalla, para deleite dos velhos fãs e dos novos leitores de quadrinhos que nunca tinham visto uma HQ desenhada pelo artista.
                Em 2012, o cartunista Márcio Baraldi, lançou o documentário em DVD “Rodolfo Zalla - Ao Mestre com Carinho”. O filme conta a história do quadrinista, através de um longo bate papo com o próprio Zalla, que divide toda sua experiência de vida e mostra alguns de seus memoráveis trabalhos. O filme acabou premiado na 25ª edição do Troféu HQMIX, o "Oscar brasileiro dos quadrinhos", pela importância de seu relato e homenagem ao veterano artista, que estava perto de completar nada menos do que 50 anos de carreira artística apenas contando seu tempo no Brasil. O artista ainda comparecia a convenções e encontros de quadrinhos, onde interagia com os fãs, atendendo a todos com simpatia e paciência, e recebendo o devido reconhecimento de muitos profissionais do ramo pela carreira desenvolvida até ali.
                Vários fãs e profissionais do meio receberam com surpresa a morte de Rodolfo Zalla, uma grande perda para o mercado nacional de quadrinhos, mais pela sua trajetória no ramo do que por trabalho propriamente dito, uma vez que, embora não estivesse afastado do ramo, ainda produzia um trabalho aqui e ali, mostrando que ainda podia cativar os leitores com sua arte e técnica de desenho. Alguém que, ao seu próprio modo, lutou pelo fortalecimento do mercado nacional de quadrinhos, incentivando a carreira de vários desenhistas e roteiristas, e publicando as mais diversas histórias e colaborando para a difusão da arte sequencial em outras áreas, como a dos livros educativos. E apesar das dificuldades enfrentadas por aqui, o artista nunca se arrependeu de ter feito do Brasil o seu lar em definitivo, após deixar a Argentina no início dos anos 1960.