segunda-feira, 24 de agosto de 2015

YVONNE CRAIG, A BATGIRL DOS ANOS 1960, MORRE AOS 78 ANOS



                O seriado televisivo do Batman produzido por Willian Dozier na segunda metade da década de 1960 foi responsável pela primeira onda de "batmania" a varrer o mundo. O sucesso das aventuras da Dupla Dinâmica ia de vento em popa, e a venda de produtos licenciados, bem como dos títulos de quadrinhos dos personagens estavam nas alturas. A primeira temporada, lançada em 1966, foi um verdadeiro arraso de audiência, mas como tudo que é bom dura pouco, durante a segunda temporada, em 1967, o público começou a se cansar da fórmula das aventuras, e os índices de audiência começaram a cair. Na tentativa de realavancar a popularidade da série, foram feitas mudanças para o seu terceiro ano, alterando a estrutura das aventuras, e introduzindo uma nova personagem, a Batgirl, uma nova heroína para ajudar Batman e Robin a enfrentar os vilões de Gotham City.
                Com a nova personagem estreando nos quadrinhos da DC Comics na edição 539 de Detective Comics, pelas mãos do roteirista Gardner Fox e do desenhista Carmine Infantino, os leitores eram apresentados a Barbara Gordon, filha de James Gordon, o comissário de polícia de Gotham City, que após uma noite incomum onde ajudava o milionário Bruce Wayne a escapar de um rapto, decide usar a fantasia que havia criado para se tornar a mais nova heroína da cidade, a Batgirl, ou Batmoça, nos quadrinhos nacionais. E, para a introdução da personagem no seriado televisivo, Dozier contratou a atriz Yvonne Craig, que do alto de seus trinta anos, fez cintilar os olhos dos marmanjos fãs da dupla dinâmica com seu uniforme colante roxo brilhante, com o qual entrava em ação para auxiliar Batman e Robin nos percalços da luta contra o crime. Infelizmente, a presença da nova heroína não foi suficiente para salvar o seriado do cancelamento, que chegou a seu fim após 3 temporadas e 120 episódios, em 1968. Mas a Batgirl ganhou força para se manter firme nos gibis, estrelando novas aventuras até os dias atuais.
                Praticamente imortalizada como Batgirl, o papel pelo qual é mais lembrada, a atriz Yvonne Craig faleceu há poucos dias, aos 78 anos, em sua casa em Pacific Palisades, Califórnia, vítima de um câncer de mamas que infelizmente se espalhou para outras partes do corpo. O anúncio foi feito no site oficial da atriz no último dia 17, e segundo sua família, ela já lutava contra o câncer há cerca de dois anos, fato que era do conhecimento de poucos pelo estilo reservado de vida de Yvonne. A atriz estava afastada do meio artístico nos últimos anos, fazendo apenas alguns trabalhos esporádicos, como a dublagem da vovó na série infantil Olivia. Muitos fãs lamentaram a morte de Craig, pelas lembranças que têm de sua atuação como a cruzada embuçada na série do Batman dos anos 1960.
                Nascida em 1937, na cidade de Taylorville, Illinois, Yvonne começou a estudar dança aos 14 anos, e ao fim da década de 1950, começou a trabalhar como atriz em alguns filmes e séries de TV, entre elas Perry Mason, Xeque-Mate, Os Detetives, Viagem ao Fundo do Mar, Laramie, Dr. Kildare, O Agente da UNCLE, Big Valley, Meu Marciano Favorito, James West, O Rei dos Ladrões, Jornada nas Estrelas, Terra de Gigantes, O Homem de Seis Milhões de Dólares, Justiça em Dobro, A Ilha da Fantasia, etc. No cinema, atuou ao lado de Elvis Presley nas produções "Loiras, Morenas e Ruivas", e "Com Caipira não se Brinca".
                Por ser bailarina, a atriz tinha boa desenvoltura para as cenas de luta, onde enfrentava os criminosos com chutes e algumas acrobacias, uma vez que por ser uma mulher, não pegaria bem a personagem sair na porrada com os bandidos, como Batman e Robin faziam, ao som (ou melhor, aparição) das onomatopéias que enchiam a tela nos momentos de luta. Fora isso, sua personagem estava longe de ser a mocinha indefesa que era o padrão das personagens femininas na época. Barbara Gordon, a identidade secreta da personagem, era bibliotecária, e sabia muito bem usar a cabeça para investigar os crimes que eram perpetrados pelos vilões, tendo plena condição de agir de forma independente da Dupla Dinâmica, que nunca soube sua real identidade. E, se os heróis tinham o Batmóvel para se locomover, a heroína não ficava atrás, percorrendo a cidade com sua batmoto, com toda a destreza possível de se pensar de uma garota conduzindo uma moto naqueles tempos. E vale lembrar que a atriz ainda fazia as cenas de ação e de pilotagem da moto sem dublês. Por interpretar uma heroína que nada ficava a dever aos heróis do seriado, Craig inspirou muitas garotas, mostrando que elas também podiam ser fortes e decididas, e que podiam lutar pelos seus sonhos tanto quanto os homens. "As mulheres me diziam que eu era um modelo a ser seguido", declarou a atriz, em entrevista feita há alguns anos ao canal de notícias americano CNN, mostrando como seu personagem caiu no gosto do público feminino.
                Yvonne Craig foi casada duas vezes. Seu primeiro casamento foi ainda nos anos 1960, com o cantor Jimmy Boyd, que durou apenas dois anos; em 1988, casou com Kenneth Aldrich, um promotor público que já conhecia há anos, e com quem ainda vivia até sua morte. Como Batgirl, Yvonne deu vida à primeira super-heroína numa produção de TV, que conheceria alguns anos depois a Mulher-Maravilha, estrelada por Lynda Carter, outro personagem da DC Comics, e será eternamente lembrada pelo seu papel como a cruzada embuçada de Gotham City, graças às inúmeras reprises do seriado, que mesmo tendo sido cancelado em 1968, continuou sendo exibido mundo afora de forma praticamente ininterrupta até hoje, e que no ano passado finalmente ganhou lançamento em vídeo em Blu-Ray e DVD nos Estados Unidos (e apenas em DVD no Brasil, infelizmente).

Um comentário:

  1. Nessa época os artistas de seriados para tv tinham um charme e um carisma especial; encantavam o público com extrema cumplicidade em suas atuações. Realmente havia a interação a qual o expectador se imaginava, se colocava na forma de se expressar de seu ídolo. Embora com muitas barreiras da censura, havia muita criatividade para burla-la, assim o ator se desdobra para passar o momento e interpretava envolvendo o público como seu cúmplice. Yvonne era dessa geração, a qual fez trabalhos memoráveis e que farão parte da memória de uns sobreviventes e conquistará outros novos que por certo gostarão de viajar no tempo das aventuras fantásticas e porque não, pueris de tempos mais simples e despretensiosos.

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