terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CRIADOR DO CHAVES MORRE AOS 85 ANOS



                O México e os fãs de um dos mais cultuados seriados exibidos na TV mundial estão de luto: no último dia 28 de novembro, faleceu aos 85 anos, Roberto Gomez Bolaños, que imortalizou-se nas telas de TV interpretando o personagem Chaves. Escritor, comediante e dramaturgo, Bolaños faleceu em sua residência em Cancún, e já vinha tendo problemas de saúde nos últimos anos, que se intensificaram a partir de 2012, quando foi internado devido a uma insuficiência respiratória. Nos últimos tempos, já estava praticamente confinado a uma cadeira de rodas, e não resistiu a um Nascido na Cidade do México em 21 de fevereiro de 1929, filho da secretária bilíngue Elsa Bolaños Cacho e do pintor, cartunista e ilustrador Francisco Gómez Linares, Roberto Goméz Bolaños tinha tudo para seguir outros rumos em sua vida. Ele cursou e se formou em engenharia elétrica pela Universidade Nacional Autônoma do México, mas quis o destino que ele nunca exercesse essa profissão.
                Ainda nos anos 1950, conseguiu emprego como escritor para um programa de uma dupla humorística em uma emissora de rádio, tomou gosto, e não parou mais. Em pouco tempo, passaria a escrever programas de TV, e até filmes para cinema. Em 1960, estreava como ator, em um filme escrito por ele próprio, e sua vida a partir dali seria sempre ligada à TV e ao cinema. Pouco a pouco, sua fama foi crescendo não apenas como roteirista, mas também como ator, e em 1968, no programa de esquetes “Los supergenios de la mesa cuadrada”, encontraria-se com vários dos atores que, mais tarde, passariam a fazer parte de seu maior sucesso na carreira. Um sucesso que teve início em 1970, pela rede de TV Televisa, quando estreou a série “El Chapulín Colorado”, que no Brasil se chamaria “Chapolin”, onde Bolanõs interpretava o personagem-título da série, que era um super-herói ingênuo e atrapalhado que se envolvia nos maiores problemas e confusões. As frases do personagem se tornaram conhecidas por todos os fãs, como “Não contavam com a minha astúcia”, "Sigam-me os bons", e “Se aproveitam da minha nobreza”, entre outras. O sucesso desta série permitiu ao ator e escritor a produção de uma nova série, nos mesmos moldes de humor, mas com outra temática. Assim, nascia em 1971 a série "El Chavo del Ocho”, cujo personagem central, também interpretado por Bolanõs, era um garoto pobre que vivia em uma vila, e que geralmente se escondia em um barril: Chaves, no Brasil.
                Começando como um programa de esquete dentro da série Chapolin, Chaves assumiu a primazia em pouco tempo, e passou a ser o maior sucesso de Roberto. Sua combinação de humor inocente, piadas simples, e dramas do cotidiano comuns a muita gente cativaram o público e várias gerações até hoje. E, assim como Chapolin, Chaves também tinha suas falas padrão que ficariam marcadas nas mentes dos fãs, como "Ninguém tem paciência comigo", "Foi sem querer querendo", e "Isso, isso, isso...", entre muitas outras citações. Tanto Chapolin como Chaves seriam exportados para diversos países, e fariam grande sucesso em todos eles, por vários e vários anos. No México, ambas as séries foram produzidas ininterruptamente como programas independentes por praticamente uma década: Chapolin foi produzido de 1970 até 1979, contando com cerca de 253 episódios; Chaves, por sua vez, estreou em 1971, e foi exibido até 1980, totalizando 290 episódios. Na década seguinte, o artista passou a produzir um novo programa de TV, baseado em esquetes, com Bolaños interpretando vários personagens em quadros variados, e tanto Chapolin quanto Chaves passaram a ser quadros deste novo programa, chamado "Chespirito", apelido que o ator ganhara muitos anos antes no meio artístico, quando foi comparado a William Shakespeare, pela sua grande capacidade de escrever histórias. Este programa durou até o fim de 1995, e a partir de então, o artista passou a se dedicar mais ao teatro, como protagonista da peça "Once Y Doce", que já produzia e estrelava desde 1992, e que encerrou apenas em 2009, já praticamente com 80 anos de idade.
                No Brasil, a TVS/SBT estreou a série do Chaves em 1984, e tornou-se um dos maiores sucessos da emissora de Silvio Santos. Com uma excelente dublagem, o seriado caiu no gosto do público brasileiro, a ponto de fazer da série a recordista de reprises da emissora, que exibe a produção até os dias atuais, sempre com excelentes índices de audiência, mesmo depois de 30 anos de sua estréia na programação do canal. O sucesso de Chaves era tanto que a audiência de seu programa chegava até a balançar o ibope da toda-poderosa TV Globo, até mesmo no horário nobre de suas novelas, o que era um assombro, especialmente para os diretores da emissora carioca, que até hoje não conseguem entender como aquele programa, feito com poucos recursos e um humor considerado por muitos ultrapassado e infantil, conseguiu rivalizar com suas produções. E, para desespero dos concorrentes, raras foram as ocasiões em que Chaves deixou a grade de programação da emissora, e quando isso acontecia, para felicidade dos fãs, sempre era por pouco tempo, com a produção retornando e voltando a garantir sempre invejáveis números de audiência para um programa reprisado praticamente à exaustão. Com menos fama do que a série do garoto do barril, Chapolin também foi exibida pela emissora, e assim como Chaves, também marcou época e ganhou inúmeros fãs do super-herói todo atrapalhado, sendo reprisado inúmeras vezes, ainda que sua audiência não fosse tão arrasadora quando a daquela série. Chespirito, o programa mais recente de Bolaños, também foi exibido pelo canal, embora tenha ficado à sombra das produções mais antigas, mas que nem por isso deixou de ser exibido várias vezes.
                O seriado teve alguns episódios lançados em DVD, mas, devido a problemas com a emissora de Silvio Santos, que não liberou as dublagens dos episódios, foi preciso providenciar uma nova dublagem para os DVDs, que apesar de bem feita, não caiu muito no gosto do público, já acostumado às vozes da exibição televisiva. Na década passada, como que para mostrar que o sucesso de Chaves ainda continuava forte, a série ganhou uma versão em desenho animado, que fez um relativo sucesso, tendo sido exibida também pela TVS/SBT. Aliás, pela primeira vez, Chaves também passou a ser exibido pela TV por assinatura, tendo feito parte da grade do canal Cartoon Network durante algum tempo.
                A emissora de Silvio Santos noticiou a morte do artista, e exibiu inúmeros episódios de suas séries, em homenagem. O assunto ocupou os telejornais e programas da emissora, com inúmeras entrevistas e depoimentos de fãs e profissionais do meio artístico que cresceram assistindo Chaves. Houve comoção de fãs em várias partes do mundo, para onde as séries haviam sido exportadas desde os anos 1970, que chegaram a ser exibidas em mais de 100 países. Todos lamentaram o falecimento do artista. Seu corpo foi velado no Estádio Azteca, na Cidade do México, onde a emissora que produziu suas séries fez uma homenagem com o título "Chespirito: Obrigado para sempre", com transmissão ao vivo pela emissora mexicana. O velório no estádio contou com mais de 40 mil pessoas, sendo que havia uma legião de fãs que compareceram vestidos de Chaves e Chapolin. O enterro foi no dia 1° de dezembro, no cemitério Panteón Francés, da capital mexicana. Roberto foi casado duas vezes: aos 27 anos, casou-se com Graciela Fernández, com quem ficou 23 anos e teve seis filhos: Roberto, Paulina, Graciela, Marcela, Teresita e Cecília. No entanto, durante a produção das séries "Chaves" e "Chapolin", em 1977, ele assumiu um romance com a atriz Florinda Meza, que interpretava a Dona Florinda, em “Chaves”. A união com Florinda, contudo, só foi oficializada em 2004, depois que o artista conseguiu enfim o divórcio de Graciela.
                Apesar do sucesso das séries, nos bastidores nem tudo eram flores: o romance de Roberto com Florinda causou a baixa de Carlos Villagrán, intérprete do Quico, de seu programa. Villagrán também teria tido um romance com Florinda, e inconformado por ter sido preterido em favor de Bolaños, desentendeu-se com o artista e foi seguir carreira solo em outros países, e ambos jamais se reconciliaram. Na década de 1990, os problemas se deram com a atriz Antonieta de Las Nieves, que interpretava a Chiquinha, filha do Seu Madruga e parceira de traquinagens do Chaves na série, que reclamou para si os direitos da personagem que interpretara no seriado, e que a exemplo das discussões com Villagrán, também deixou feridas que nunca cicatrizaram.
                Quando perguntado a respeito do enorme sucesso feito por Chaves, Roberto declarou que "Chaves sempre defendeu valores familiares como honestidade e compaixão, e as pessoas se identificam com ele por causa disso". Era uma explicação tão simples que por isso mesmo até deixava dúvidas de sua veracidade. O fato é que não há uma única explicação para o fenômeno que Chaves se tornou, e isso, o próprio ator soube encarar que esse sucesso, como diria o próprio Chaves, foi mesmo sem querer querendo. E o mundo, certamente, sentirá grande saudade deste artista, que soube encantar o mundo com suas criações, que prometem continuar divertindo pessoas em todos os lugares onde continuarem sendo exibidas.

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