YES, NÓS TEMOS UMA COMIC CON!
Nos
últimos dias 4 a
7 de dezembro, o mundo da cultura pop nacional passou por um acontecimento sem
precedentes até então na história de nosso país. A primeira edição da Comic Con
Experience, anunciada no início do ano, foi realizada na Capital Paulista, e
foi um sucesso estrondoso, muito além do que todos esperavam. Como dizia seus
anúncios promocionais que vinham sendo distribuídos nos meses que antecederam a
grande convenção, foi de fato ÉPICO! E todos os envolvidos podem se orgulhar
muito do feito.
Quando
foi anunciado no início do ano, em uma parceria do site informativo Omelete com
a Chiaroscuro Studios, muita gente ficou com o pé atrás. Uma convenção, no
estilo dos grandes eventos do gênero existentes nos Estados Unidos, sendo
realizado no Brasil? E ainda por cima por um pessoal teoricamente novato na
área? E anunciado com tanta antecedência, como é praxe de eventos altamente
organizados e profissionais, que sempre fecham datas e locais com este tipo de
antecedência? Parecia bom demais para ser realidade.
O
panorama dos eventos dedicados à cultura pop/nerd no Brasil nunca foi
exatamente dos mais diversificados. Tivemos as saudosas Bienais dos Quadrinhos nos anos 1990,
onde os fãs da arte sequencial davam vazão à toda a sua paixão por este ramo da
indústria do entretenimento, e que infelizmente não tiveram continuidade. Em
1999, surgiu um evento que marcaria época em nosso país: surgia o Animecon, o
primeiro evento de grandes proporções dedicado às produções nipônicas de
animação e quadrinhos, os famosos animes e mangás. Até então, tínhamos alguns
eventos aqui e ali, mas todos de pequeno porte, e realizados de forma por vezes
amadora e improvisada, o que não impedia o público de se divertir bastante. O
sucesso do Animecon mostrou que havia espaço para eventos de grande porte, e em
2003, ainda tendo como tema as produções japonesas, surgia o Animefriends, com
a proposta oficial de profissionalizar a execução de eventos no país, inovando
em vários aspectos, mas também criando celeuma entre os fãs pelo fato de ter
surgido batendo de frente com o Animecon, numa concorrência que nada de sadia
tinha, marcando sua realização até para os mesmos dias da outra convenção, e em
um local próximo no mesmo bairro de São Paulo, capital (alguém ainda acredita
que foi coincidência as datas serem as mesmas?), e ainda fomentando discussões
entre os fãs, que defendiam o novo evento e execravam o anterior.
Com
dois eventos de grande porte, proliferaram-se os eventos pelo país fora. Entre
os mais conhecidos, tínhamos o SANA, no Nordeste, e o Kodama, em Brasília-DF.
Mas todos os eventos eram dedicados em maior ou menor grau aos animes e mangás.
Havia eventos que abordavam de tudo um pouco, mas os que tinham a palavra "anime"
em sua denominação eram em maior número. E os eventos dedicados ou baseados nos
quadrinhos? Estes quase não existiam. Anime e mangá era o novo hit do público,
o que não quer dizer que os quadrinhos foram esquecidos. Aos poucos, eles passaram
a ganhar suas próprias convenções, como o Fest Comix, surgido a partir de um
feirão promovido regularmente pela loja Comix Book Shop, a Gibicon, Multiverso
ComicCon, entre outros, além daquele que se tornaria um dos mais importantes
eventos de quadrinhos do país, o FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos,
realizado em Belo Horizonte. O próprio Animefriends também passou a abraçar
mais os quadrinhos não-japoneses, criando sub-eventos realizados dentro de si
próprio em duas oportunidades: a São Paulo Comic Fair, e o Brasil Comic Con.
Mas ainda faltava algo, um evento mais dedicado à cultura pop, nascido dos
quadrinhos, e que a partir daí abraçou os demais mercados culturais intimamente
ligados ao universo das HQs e todos os seus desdobramentos, como animação, filmes,
brinquedos, etc. Em suma, uma verdadeira "comic con", no sentido
específico que todos já ouviam falar.
Há
muito os fãs nacionais vêem notícias das grandes convenções americanas, sendo a
de San Diego, na Califórnia, a mais famosa de todas as "Comic Cons"
dos Estados Unidos. Surgida de um encontro de fãs de quadrinhos, o evento
cresceu de maneira assombrosa, de modo que hoje é um espaço disputadíssimo por
editoras, artistas, emissoras de Tv, estúdios de cinema, e fabricantes de
produtos licenciados dos mais diversos gêneros. Não se podia imaginar a inveja
dos fãs nacionais ao verem as imagens deste tipo de convenção dos EUA, com
centenas de estantes das mais diversas empresas, vendendo todo tipo de produto,
fazendo promoções, encontro com artistas, produtores, profissionais diversos,
promovendo lançamentos, concursos de fantasias, etc. Seria possível realizar um
encontro desses aqui?
As
experiências obtidas com eventos como Animecon, Animefriends, além dos eventos
destinados a gamers mostraram que seria sim possível. Mas quem iria topar a
empreitada? Os organizadores de eventos nos últimos tempos ficaram
relativamente acomodados, inovando muito pouco ou quase nada nas convenções,
com raras exceções. E São Paulo, o maior centro cultural do país, estava em um
marasmo onde a concorrência de grandes eventos do gênero foi sufocada pelo
Animefriends, cuja empresa organizadora, a Yamato Produções e Eventos, saturou
o calendário paulistano criando eventos menores durante praticamente todo o
ano, "matando" o nascimento de possíveis concorrentes. Sobrava apenas
o Fest Comix, e eventos de pequeno porte, como o "Mercado das
Pulgas", que virou convenção também. Tudo indicava que seria preciso um
pessoal novo que topasse a empreitada. E felizmente, surgiu este pessoal.
Entrada do evento,
realizado no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center: quase 40 mil m²
dedicados à cultura pop/nerd.
A
Comic Con Experience foi resultado de praticamente dois anos de preparação,
onde o pessoal do site Omelete e do Chiaroscuro Studios foram precisando vencer
inúmeras etapas, e efetuar um planejamento metódico para que tudo fosse feito
da melhor forma possível e sem sustos. E ainda vencer o principal inimigo que
poderia surgir: a descrença do público e do mercado neste tipo de empreendimento
em solo nacional. E eles conseguiram vencer todos os desafios, não sem terem
certamente vários percalços pelo caminho. Não posso negar que, à primeira
vista, me pareceu também que seria algo grandioso demais para o Brasil. O
mercado dos Estados Unidos é infinitamente maior do que o brasileiro, não
apenas no público potencial, mas também no poder aquisitivo, com o agravante de
que tudo em nosso país costuma sair mais caro do que por lá. Mas a repercussão
desde o início era grande, e a curiosidade de descobrir o que poderia ser esta
CCXP foi vencendo todas as resistências, ao mesmo tempo em que os organizadores
foram divulgando os convidados e atrações que estariam presentes na convenção
que promoveria uma "experiência" sem igual para todos o fãs, fossem
eles de quadrinhos, animação, e/ ou cinema.
Seria
um passo decisivo também para alavancar ou tentar alavancar de vez a
participação das empresas neste tipo de convenção. Até a CCXP, todos os
eventos, em maior ou menor parte, sempre tiveram a presença de empresas
oficiais em sua realização, fossem patrocinadores, e/ou parceiros de algum
lançamento feito durante a convenção. Mas, ao mesmo tempo, nenhum evento
conseguiu contar apenas com produtos "oficiais" em seus estandes de
vendas. E uma das coisas que na última década proliferou nestes eventos eram
estandes de produtos não-oficiais, como DVDs piratas, além de chaveiros, roupas
e outros artigos não-licenciados pelos respectivos detentores das marcas. Uma
"Comic Con" digna do nome, como as que existem nos EUA, contam
exclusivamente com produtos oficiais, o que motiva as empresas a investirem nas
convenções, certas da promoção e venda de seus produtos. Acontecimentos como a
visita de um representante da Cloverway em 2005 ao evento do Animefriends, onde
o mesmo disse ter ficado alarmado com a quantidade de vendedores de DVDs
piratas que viu dentro do evento (a empresa é licenciadora oficial de várias
séries de anime para o mercado ocidental), ou mesmo de uma empresa nacional, a
Focus Filmes, que montou um estande oficial no mesmo evento, e onde seus
funcionários declaravam que não tinham quase movimento pelo fato de o público
comprar os discos piratas à venda no próprio evento, poderiam
"queimar" a imagem da convenção aos olhos de muitas empresas que
tratam isso como algo muito, muito sério. Conseguir contar com empresas de
porte como a Disney, Warner, Fox, Sony, só para citar os grandes estúdios, além
das empresas de brinquedos e editoras presentes no mercado nacional, foi um
feito tremendo, e para que tudo desse certo, o público teria de se acostumar
com outro tipo de venda de produtos dentro da convenção.
O
trajeto do anúncio oficial do evento até sua realização teve alguns percalços.
Houve alguns mal-entendidos, como o que seria realmente a CCXP: um evento dos
americanos experimentando o mercado nacional, ou uma empreitada brasileira
tendo como inspiração as grandes convenções americanas? Felizmente, estas
dúvidas não duraram muito tempo. Houve, claro, quem tentasse se aproveitar da
situação. A Yamato, organizadora do Animefriends, tentou se adiantar criando
para o mês de novembro uma edição solo da Brasil Comic Con, nome do espaço de
quadrinhos que tinha dentro do Animefriends. Se a idéia era confundir o público
e garantir a presença deste em sua convenção, realmente conseguiu confundir
muitos, que não souberam distinguir exatamente qual evento era o quê, com o
nome "comic con" sendo mencionado a torto e a direito. Nos últimos
anos, fazendo marcação cerrada em eventos concorrentes, a Yamato sempre marcou
suas convenções em dias próximos, o que derrubava os eventos concorrentes. Se a
idéia era repetir a dose, caiu do cavalo: a Brasil Comic Con teve cerca de 15
mil visitantes em seus dois dias, e embora não se possa dizer exatamente que
foi ruim, quem esteve presente neste evento não conseguiu sentir por lá um
clima muito positivo. Ele teve suas atrações, é verdade, mas com a proximidade
da CCXP, muita gente, além de várias empresas, preferiram apostar no novo
evento que seria realizado em dezembro, o que esvaziou a convenção da Yamato,
impedindo-a de obter resultados melhores.
O
fato de ser anunciada com grande antecedência permitiu a muitos fãs se
programarem adequadamente para ir ao evento, especialmente com relação aos
gastos que teriam com ingressos, e para quem era de fora de São Paulo, capital,
passagens e estadias, além de, claro, guardar dinheiro para os gastos dentro do
próprio evento, que prometia ter produtos exclusivos que nenhuma outra
convenção no país teve até hoje. E, mesmo com a venda antecipada de ingressos
tendo sido além das expectativas, nos dias do evento, as bilheterias do evento
não tiveram folga, em especial no dia 6, sábado, onde mesmo após as 13:00 ainda
havia uma fila quilométrica para de adentrar o pavilhão do São Paulo Expo Ehxibition
Center (antigo Centro de Convenções Imigrantes), que não demorou muito para ser
vencida, permitindo que todos adentrassem o evento a tempo de aproveitarem o
que de melhor havia por lá.
Num momento de
"calmaria", todo este espaço dentro da CCXP parecia até exagerado,
mas ele não demorou a ficar completamente lotado de fãs (abaixo).
Foi
realmente um assombro adentrar a CCXP logo no primeiro dia. Estandes imensos e
majestosos. Editoras presentes com seus principais produtos. Lojas e empresas
de brinquedos oficiais. Palestras e painéis a rodo. Cosplayers. Praça de
Alimentação pra ninguém botar defeito, com direito até a restaurante
self-service (comida de verdade, pra variar, num evento deste tipo). Sessões de
fotos e autógrafos para quem tinha comprado pacotes "VIP". E dezenas
de artistas e profissionais expondo e vendendo seus trabalhos. Se achavam que
era impossível "trazer" a Comic Con de San Diego para cá, bem, eles
conseguiram realmente o impossível, mesmo que muita gente fale que os números
da convenção estadunidense deitam e rolem sobre os números da CCXP (O que
convenhamos, seria pedir demais que nossa convenção, em sua primeira edição,
batesse um evento que já tem mais de 3 décadas de existência, desde seu início
modesto, até o gigantismo que tem hoje).
A CCXP teve uma distribuição bem racional dos espaços
dos estandes, e com setores bem definidos. E instalações limpas e bem cuidadas.
Quem já teve traumas com banheiros em outros eventos não teve com que se
preocupar: durante todos os 4 dias, as instalações sanitárias estavam
impecáveis, por maior que fosse o movimento. Tudo sinalizado de forma
satisfatória, o que não impedia o pessoal às vezes de se perder no meio da
multidão. Para estes momentos, a revista de apresentação da convenção,
distribuída junto à
entrada, era item
indispensável, contendo mapa, programação completa, e relação de todos os artistas e
desenhistas presentes no "Artist's Alley", o que permitia ao pessoal
se localizar adequadamente dentro do espaço de quase 40 mil metros quadrados
dedicados à CCXP. Mesmo assim, o gigantismo do espaço por vezes pregava algumas
peças no público quando se procurava alguma coisa e se virava "à
esquerda" ao invés "da direita" em alguma "esquina" lá
dentro. Mas nada que não pudesse ser resolvido. Talvez a única reclamação fosse
o reduzido número de bebedouros, onde se formaram imensas filas para o público
reabastecer suas garrafinhas de água, com a qual matavam a sede e tentavam
mitigar o calor, que no sábado e domingo, mesmo com o forte sistema de
climatização instalado, não conseguiu dar conta de refrescar o ambiente devido
ao grande número de visitantes. Ah, e claro, preços de alimentos em eventos
quase nunca são baratos, e isso já devia ser esperado por todos, o que não
impediu que a praça de alimentação, com um grande espaço, fosse inteiramente
ocupada pelo público presente na hora de repor as energias e reabastecer o
estômago.
O "Artist's
Alley" (Beco dos Artistas, em português) contou com praticamente mais de
200 profissionais da área, onde expuseram seus trabalhos, venderam artes
personalizadas, deram autógrafos, e ainda bateram um bom papo com os fãs. Abaixo, Daniel HDR, fingindo cara feia para espantar o pessoal, mas adorando cada
momento da CCXP (e vendendo muito mais do que esperava...)...
E
o melhor de tudo era ver o público presente. Não apenas a quantidade em si, mas
como era esse público: havia crianças, adolescentes, adultos, e até idosos
curtindo a convenção. E vários pais que levaram até os filhos de pouca idade,
alguns até mesmo com fantasias, mostrando que ser fã realmente não tem idade
nem qualquer outra diferenciação. Havia desde visitantes solitários a famílias
inteiras curtindo a CCXP, num clima totalmente diferente do que se vinha vendo
nos últimos eventos dedicados aos "animes", onde muitos alegam ter
sido "empestiado" por um público que nem sabe o que é ser realmente
fã de alguma coisa. Em outras palavras, frequentado por gente que não tinha
muito a ver com a temática da convenção. Na CCXP, isso não se via, muito pelo
contrário: quem estava ali sabia o que procurava, e o que queria curtir dentro
do evento. E todos se confraternizavam igualmente, sem nenhum tipo de picuinha
com relação a se preferir série X ou Y, ou quem gostava de personagem tal em
relação a personagem fulano. Se houve algum desentendimento entre fãs por lá,
não é de meu conhecimento, e nem que tenha sido divulgado algo neste tipo de
ocorrência. Ali, não importava a cor de ninguém, nem que religião a pessoa
seguia, ou time de futebol, ou apreciador de quadrinhos ou desenhos ou filmes:
todos eram fãs, apenas isso, e nada mais do que isso. Foi uma confraternização
sem precedentes para todos os fãs da cultura pop/nerd, onde amigos se
encontraram, bateram papo, discutiram numa boa, onde novas amizades foram
feitas, onde muita gente conheceu muito mais gente ainda, tudo num clima de
camaradagem e respeito como há muito não se via em uma convenção neste país.
Não havia espaço para rixas e briguinhas imbecis na CCXP. E todos os fãs que
são fãs sérios e sensatos puderam curtir como nunca o que havia a ser
oferecido.
Formaram-se
filas para autógrafos, fotos, auditórios, etc. Impossível conseguir aproveitar
tudo o que estava acontecendo dentro da CCXP. Não havia como estar em todos os
lugares em tempo hábil. Houve quem perdeu até 4 horas em filas para conseguir o
autógrafo de um desenhista em uma edição que ele tenha participado da arte. Na
sexta-feira, o painel dedicado a "Vingadores 2 - Era de Ultron" teve
sua lotação esgotada praticamente mais de duas horas antes do horário de
início. Quem conseguia participar de determinados painéis tinha logicamente de
sacrificar seu aproveitamento do restante da convenção, algo que se repetiu
para outras filas que se formaram dentro da convenção, especialmente no sábado
e no domingo. Os corredores e estandes, imensos à primeira vista, tornaram-se
pequenos e apertados diante do fluxo de fãs que parecia interminável. Mas todo
mundo conseguia se locomover, com maior ou menor rapidez, e sem
desentendimentos com ninguém. E olhe que tudo ainda ficava muito mais
complicado com as inúmeras fotos que todos tiravam a todo instante, tentando
captar os melhores momentos e ao mesmo tempo não incomodar os demais. Para
sorte do público, as atuais câmeras digitais, bem como filmadoras e celulares,
são uma mão na roda na hora de tirar centenas de fotos. Nos velhos tempos do
filme de revelação, este evento faria disparar a venda de películas de filmes,
e ainda teríamos de esperar pelas revelações para vermos se conseguimos
aproveitar todas as fotos.
O
resultado não poderia ser outro: todos os estandes que levaram produtos para
vender saíram plenamente satisfeitos. Em alguns, como o da livraria Comix e da
editora Panini, havia filas até para se adentrar nos seus espaços, tamanho o
fluxo do público que se formou de fãs querendo comprar produtos. Isso tornou a
movimentação dentro de ambos extremamente desgastante, uma vez que o espaço se
mostrou apertado frente ao imenso público consumidor, sendo que na Panini havia
o inconveniente de várias publicações estarem todas juntas num mesmo balcão, misturadas,
obrigado o público a procurar o que queria encontrar. Os descontos variavam, e
havia opções para todos os bolsos e gostos. Nos estandes dedicados a
brinquedos, havia desde as opções "populares" até as mais caras e
improváveis, como uma armadura do Homem de Ferro com iluminação, para quem
tivesse grana suficiente para comprar este tipo de produto para deixar em casa.
Quem tinha grana curta ou bom senso só podia mesmo ficar babando com tanta
coisa legal para apreciar.
Cada estande procurou oferecer suas próprias
atrações. Na Comix, o maior destaque era a presença do desenhista Keno Don
Rosa, que ilustrou várias aventuras do Tio Patinhas, Donald & Cia. para a
Disney. Na JBC, rolou seletivas de cosplay e palestras variadas. A Netflix, com
um dos maiores estandes do evento, promoveu a pré-estréia de sua série Marco
Polo, com direito a presença do elenco principal; e por aí vai. Não houve quem
ficasse perdido tentando escolher qual atração iria acompanhar. E os artistas e
desenhistas presentes no "Artist's Alley" travaram um longo e
produtivo contato com o público visitante, com direito a muitas fotos,
bate-papos, e principalmente artes e produtos próprios vendidos, mesmo que
alguns tenham ficado até com caîbras de tanto tempo sentado durante os 4 dias.
Mas todos eles saíram mais do que satisfeitos do evento, mesmo aqueles que já
tinha até estado nas convenções americanas vendendo seus trabalhos neste mesmo
tipo de espaço. E olha que tinha até artista internacional por lá, o que mostra
que o nível do pessoal era bem elevado. E todos eles afirmaram que o evento
brasileiro em nada ficou a dever aos eventos que frequentam no exterior,
opinião que foi compartilhada tanto pelos profissionais estrangeiros quanto
pelos artistas nacionais.
Warner (acima) e Netflix (abaixo) tinham
os maiores estandes do evento, cada uma promovendo seus grandes lançamentos na
CCXP 2014.
Cada
empresa tratou de promover seus lançamentos, e tivemos algumas pré-estréias
bem-vindas, como de Big Hero, Marco Polo, e do terceiro e último filme de
"O Hobbit". Mesmo assim, pode-se notar que várias empresas foram até
conservadoras em seus lançamentos programados para o evento. Cito de exemplo a
Warner, que poderia ter promovido em seu estande um de seus principais
lançamentos do ano, da série do Batman dos anos 1960 em um box completo em DVD.
Com um batmóvel exposto em seu estande, justamente o modelo usado naquele
seriado, se a distribuidora tivesse promovido por lá o lançamento do box, que
chegava ao mercado nacional de vídeo naquela mesma semana, teria sido uma
jogada de arraso na promoção do produto. Aliás, produtos de vídeo foram
praticamente ignorados pelas distribuidoras, que não lançaram e/ou colocaram à
venda praticamente nada em seus estandes no que tange a DVDs e/ou Blu-Rays, nem
se viu nenhuma promoção e/ou atividade visando sorteio de produtos deste tipo.
Quem queria os últimos lançamentos em vídeo precisava recorrer ao estande da
Comix, que nem tinha um grande espaço destinado para isso, infelizmente.
Mas
também não se pode culpar as empresas por serem conservadoras neste quesito.
Sendo a primeira convenção deste porte e molde no país, conseguir a presença
oficial de todas elas já foi uma vitória e tanto, e todas elas deram
declarações de que saíram extremamente satisfeitas, para não dizer até
impressionadas, com a organização, público e receptividade obtidas durante os 4
dias da CCXP. Decerto isso garantiu para os organizadores seu maior lucro para
a convenção de 2015, que já está marcada para os dias 3 a 6 de dezembro do próximo
ano: a credibilidade e confiança de todos que lá estiveram. Isso deverá
facilitar as futuras negociações com outras empresas, além de garantir a
presença de quem já lá esteve, que vendo o sucesso do empreendimento, não vai
querer perder seu espaço. E, vendo o resultado além de todas as projeções
esperadas, todas as empresas com certeza já poderão agendar um maior número de
lançamentos para serem feitos durante a convenção de 2015, certos do potencial
de incremento na promoção e divulgação dos mesmos. Além de motivar quem
preferiu ficar de fora este ano para ver o que rolaria mesmo a sério por lá.
E não apenas as empresas grandes (leia-se estúdios)
foram conservadoras: até mesmo vários artistas presentes no Artist's Alley
levaram poucos materiais para venda na convenção, temendo ficar com muita coisa
sem vender, e muitos ainda custavam a crer que a CCXP superou suas expectativas
mais otimistas, o que fez com que vários deles vendessem tudo quase nos dois
primeiros dias. Quem trouxe uma reserva tratou de buscar, mas quem esgotou seu
estoque só pode aproveitar para fazer artes "na hora" de quem
quisesse comprar, já que não tinham mais material preparado para vender. Até a
Panini marcou bobeira: várias edições procuradas pelos fãs esgotaram
rapidamente, e a editora não conseguiu repor o material, perdendo a chance de
vender ainda mais do que já havia vendido. E as vendas só não foram ainda
maiores porque algumas empresas não estavam vendendo seus produtos, só expondo,
ou no máximo vendendo assinaturas, o que foi uma tremenda chance jogada fora
para muitos, que ficaram frustrados por não poder comprar vários itens expostos
na convenção. Na minha opinião, uma bela pisada na bola, pois perderam um
grande público que naquele momento estava disposto mesmo a aproveitar a
oportunidade para comprar o que pudesse.
As armaduras do Homem
de Ferro (acima) e do Cavaleiro de Ouro de Leão (abaixo) chamaram a atenção dos fãs. Quem não
queria ter uma dessas em casa?
Os
números que o digam: foram cerca de 97 mil visitantes durante os 4 dias, e se
levarmos em consideração que aproximadamente dois terços deste público efetuou
compras de produtos à venda dentro da exposição (tomando como base conservadora
que cada comprador tenha gasto pelo menos R$ 200 lá dentro), o movimento de
venda de produtos pode ter ultrapassado a casa dos R$ 10 milhões, um número
impressionante para o evento, e que certamente não passou despercebido por quem
lá esteve representado, e nem passará despercebido por várias outras empresas
da área que desejem estar presente em edições futuras. E mais empresas oficiais
participando abre espaço para ingressos mais acessíveis, com o surgimento de
patrocinadores que desejem vincular seus nomes à convenção, como o que acontece
em vários eventos nos Estados Unidos e outros países. E com mais verba, as chances
de mais atrações e convidados crescem bastante, para não mencionar um público
muito maior tendo chance de comparecer ao evento, pois apesar deste grande
número de visitantes, houve muitos que não tiveram chance de aproveitar
justamente pelo fato do ingresso custar mais caro do que esperavam. No sábado,
por exemplo, os ingressos na bilheteria estavam a praticamente R$ 100, valor
que certamente deve ter afugentado muitos potenciais visitantes.
Todo
este público chamou a atenção de inúmeros veículos de imprensa. Além de todos
os veículos especializados na área já cadastrados, durante os dias do evento
estiveram presentes equipes de reportagem das mais diversas emissoras e jornais
de grande circulação, que deram destaque à convenção, em maior ou menor grau. E
olhe que os grandes jornais atualmente reduziram bastante as notícias que
publicam relacionadas a acontecimentos deste tipo de assunto, focando-se quase
sempre em matérias rápidas e notas curtas. Mas era impossível traduzir a
magnitude da CCXP em poucas linhas, o que obrigou os veículos leigos ao assunto
a terem que dedicar um espaço maior para tentar traduzir o que estava
acontecendo por lá ao seu público leitor. E nem sempre os repórteres designados
para o trabalho entendiam do riscado, o que só deu mais trabalho na hora de
montar as matérias a respeito. Mas, no geral, a CCXP simplesmente agitou os
jornais e telejornais, que não puderam deixar isso passar em branco, sem
noticiar nada a respeito.
Dois dos grandes nomes
dos quadrinhos presentes na CCXP: José Luiz Garcia-López (acima, em painel apresentado
pelo jornalista Sidney Gusman, do Universo HQ), e Keno don Rosa (abaixo, dando
autógrafos e fazendo desenhos para os fãs no estande da Comix). Mas houve
muitos outras feras presentes na convenção, cujos autógrafos foram pra lá de
disputados pelos fãs.
É
uma equação por vezes difícil equilibrar os gastos de um evento desta
magnitude, que envolve um investimento de grande porte, com inúmeros gastos de
monta, como o local onde a convenção foi sediada, que não é barata, o
transporte oferecido ao público desde o Terminal Jabaquara e o local do evento
e vice-versa, além dos custos dos convidados e atrações internacionais. Com
mais empresas e possíveis patrocinadores, existe a chance de se ter um
equilíbrio mais fácil de ser atingido, e quem sabe, preços mais em conta sem
sacrificar a contratação de atrações e profissionais do meio para o evento, que
é um dos principais atrativos deste tipo de convenção, embora não seja o único.
E quanto mais atrações melhor. E mais nomes famosos para engrandecer o evento.
Não
que não tenhamos tido vários nomes interessantes nesta primeira CCXP. Houve
atrações para todos os gostos, e apesar de nem todo mundo ter conseguido
encontrar com o seu ídolo escolhido na convenção, já foi um excelente começo.
Mas pode melhorar ainda mais. Os excelentes resultados e a credibilidade
adquirida neste primeiro evento contarão muitos pontos a favor na hora de se
contactar profissionais e astros que estejam dispostos a vir para edições
futuras. E muitos destes profissionais já se mostraram bem receptivos a vir
conhecer seus fãs tupiniquins. Mas isso sempre envolve negociações complicadas,
que por vezes independem da vontade do próprio profissional, que tem uma série
de compromissos que nem sempre o deixam disponível na data solicitada. Aliás,
alguns dos nomes contratados para virem à CCXP tiveram de ser cancelados
próximo à realização do evento, em virtude de compromissos inesperados que
surgiram em seus afazeres profissionais. E os fãs precisam lembrar, antes de
criticar tal acontecimento, que os artistas tem de priorizar seus serviços, que
é de onde tiram seu sustento e sua fama perante os fãs. Por mais que queiram
atender a seus fãs, o trabalho e compromisso profissional vem primeiro. Ser um
artista é mais complicado do que parece à primeira vista, e nem todo fã entende
ou sabe disso.
Os painéis (acima, fora e dentro dos auditórios) tiveram filas imensas e todos estiveram lotados para as
apresentações exibidas. E os estandes (abaixo) também acumularam filas de fãs querendo
comprar os produtos. De gibis, filmes, a brinquedos, havia de tudo. Haja bolso
para aguentar o tranco...
Ao
fim da convenção, no auditório principal, quando foram anunciados os nomes do
concurso de cosplay do evento, os organizadores subiram ao palco e agradeceram
efusivamente a todo o público que havia comparecido e ainda estava por lá, que
ajudou a primeira Comic Con Experience a superar todas as expectativas que eles
imaginaram, e que todo o esforço e sacrifício despendido por eles nos últimos dois
anos para viabilizar aquele momento havia valido a pena, e que não teriam
conseguido realizar nada sem a colaboração de todos, público, empresas,
profissionais do ramo, etc. Um reconhecimento a todos os envolvidos, e já
prometendo esforços redobrados para transformar a CCXP de 2015 em algo ainda
maior do que este evento inaugural foi.
A
CCXP realmente causou sensação, não apenas no público presente, mas também nas
empresas envolvidas, que saíram ambos mais do que satisfeitos com o que viram e
sentiram, e isso deverá se fazer sentir nos demais eventos existentes pelo
país, sejam de quadrinhos, sejam de animes, etc. Qual será o impacto e a
mudança que isso irá causar ainda estamos por descobrir, mas acredito que o
panorama das convenções no Brasil passará por mudanças. Como e que tipo de
mudanças isso vai causar é particular para cada evento e convenção, mas todos
eles certamente sofrerão algum tipo de influência que, todos esperam, seja para
melhor, fazendo com que todos evoluam e reforcem ainda mais este modelo de
entretenimento ao público organizado por vários fãs e profissionais por todo o
país. É o tipo de competição "saudável" que se deseja que sempre
aconteça, e não a competição "predatória" que temos visto na grande
maioria das ocasiões, onde por vezes o objetivo de um evento não é entreter e
divertir o público propriamente, mas destruir o evento rival, e monopolizar o
mercado do segmento. Nas boas competições, os eventos precisam encarar seus
erros e melhorar sempre, não apenas para garantir seu lugar ao sol, mas para
oferecer ao público visitante e empresas envolvidas as melhores condições de
diversão, entretenimento, e trabalho.
Que
o futuro dos eventos no Brasil seja o mais positivo possível. E, a partir deste
ano, todos os fãs poderão dizer com orgulho aquilo que há tempos sempre
quisemos: Yes, nós temos uma Comic Con!!! E como temos!
QUE VENHA A CCXP 2015!!!!!!
E, enquanto a Comic Con do ano que vem não chega, fiquem aqui com mais algumas fotos, em especial de alguns cosplayers que estiveram no evento deste ano:
PS: Sim, esse Tony Stark aqui da foto era um cosplayer...