domingo, 20 de abril de 2014

VERSÁTIL LANÇARÁ BOX COM FILMES DO ESTÚDIO GHIBLI



Os fãs da animação japonesa podem comemorar: por uma destas razões que até Deus duvida, mas que vez por outra costumam acontecer, agora em maio chega ao mercado de vídeo nacional um box especial trazendo nada menos do que 3 filmes do cultuado Estudio Ghibli, de Hayao Miyazaki, um dos diretores mais aclamados da história das produções animadas nipônicas, e cujas produções ganham fama em todo o mundo. E não são apenas os fãs de animes que podem comemorar, mas todos os fãs de uma boa produção em animação.
A iniciativa é da Versátil, uma pequena distribuidora de vídeo que costuma focar seus lançamentos em materiais mais "alternativos" para o mercado, tentando sempre primar pela qualidade, e que acerta em cheio neste lançamento, uma vez que as produções do renomado estúdio têm qualidade comparável às produções da Disney, tanto técnica quanto criativa, e são filmes que podem ser vistos por toda a família, com a vantagem dos títulos produzidos por Miyazaki não ficarem volta e meia piegas por causa do moralismo besta dos americanos em alguns assuntos. Os filmes serão lançados tanto em blu-ray quanto em DVD, e haverá a opção de adquirir tanto o box fechado com os 3 filmes, ou individualmente. O lançamento, que será agora no início de maio, terá venda exclusiva na Livraria Cultura, já estando em pré-venda no site da empresa (www.livrariacultura.com.br).
 Intitulada de COLEÇÃO STUDIO GHIBLI, o preço do box ficará em R$ 149,90 (Blu-ray) e 99,90 (DVD). Quem quiser comprar os filmes individualmente, os preços serão R$ 59,90 (Blu-ray) e R$ 39,90 (DVD). Os títulos que fazem parte do box são "Nausicaä do Vale do Vento", "Meu Amigo Totoro", e "Princesa Mononoke". E, para abrilhantar o pacote, cada disco irá trazer um bom número de extras. Na versão em alta definição, segundo o release, virão os seguintes materiais: Storyboards de Nausicaä, Storyboards de Totoro, O nascimento do Studio Ghibli, Trailers e spots de TV de Nausicaä, Criando Meu Amigo Totoro, Criando as personagens, A experiência Totoro, A perspectiva dos produtores, As locações de Totoro, Compondo a trilha de Miyazaki, Trailers japoneses de Totoro, Making of de Mononoke, Entrevistas de Miyazaki e Suzuki, Três especiais sobre a produção, Trailers e spots de TV. A versão em DVD trará os seguintes materiais: O nascimento do Studio Ghibli, Trailers e spots de TV de Nausicaä, Criando Meu Amigo Totoro, Criando as personagens, A experiência Totoro, A perspectiva dos produtores, As locações de Totoro, Compondo a trilha de Miyazaki, Trailers japoneses de Totoro, Making of de Mononoke, e Entrevistas de Miyazaki e Suzuki.
O único ponto negativo do pacote talvez seja a ausência de dublagem em português em dois dos filmes que compõe o box: apenas Princesa Mononoke, apesar de ser inédito no Brasil, terá áudio em português, além do som original em japonês. A versão em português foi feita há cerca de 15 anos atrás, quando a Disney possuía os direitos de lançamento do longa para o mercado nacional. Infelizmente, o filme acabou nunca sendo lançado por aqui pela Disney, e a dublagem em português feita para o lançamento brasileiro acabou indo parar na edição de colecionador lançada no Japão, e que só agora será vista em nosso país. Os demais filmes, infelizmente, só terão opção de áudio em japonês nos filmes. Meu Amigo Totoro, aliás, já teve lançamento no mercado de vídeo nacional, há quase 20 anos atrás, quando a Flashstar Home Video lançou o filme em VHS em nosso país, mas a dublagem não foi utilizada pela diferença de tempo entre as duas versões: a do VHS tinha 82 minutos, e a que está sendo lançada agora em DVD e Blu-ray tem 88 minutos, o que inviabilizou o uso da dublagem da época, segundo justificativa apresentada. Nausicaä, por sua vez, é inédito no Brasil, e por isso mesmo não terá áudio em português.
 Uma pena, pois os filmes de Hayao Miyazaki, pela fama e qualidade que possuem, ganhariam alcance muito maior se pudessem contar também com o som em português, que facilitaria especialmente para ser acompanhado pelas crianças, que muitas vezes não tem familiaridade para acompanhar produções legendadas. Por ser uma distribuidora pequena, a justificativa da Versátil para não encomendar uma dublagem para Nausicaä, que nunca foi lançado em nosso país anteriormente, é até compreensível. Já quanto à diferença de tempo entre as versões antigas e atual de Totoro, faltou maior vontade da empresa em usar o som da dublagem do VHS, pois seria apenas questão de sincronizar o áudio disponível, e avisar nas capas que nos minutos adicionais não haveria som em português, mas isso apenas se houvesse diálogos nestes minutos, podendo entrar legendas nestes momentos. É um procedimento simples e até corriqueiro em certos lançamentos do mercado de vídeo, quando o áudio em português apresenta falhas e/ou está sendo apresentado em uma versão estendida de alguma produção. Nos fóruns da internet, contudo, criou-se uma discussão entre ter e ou não ter dublagem, que em certos momentos descambou para a falta de respeito e tolerância para quem prefere um modo ou outro. Mas, sendo um lançamento oficial, e em mídia que permite o modo multilinguagem, o melhor é sempre apresentar o produto mais completo possível, oferecendo opções tanto de legendas quanto de áudio em português. Cabe depois ao consumidor, na hora de assistir, ver do modo que melhor lhe agrade. Isso agrega valor ao produto, que possui também melhor apresentação. Infelizmente, no Brasil, as distribuidoras muitas vezes preferem o caminho dos custos mínimos para tentar maximizar os lucros, e a dublagem, por ser um produto mais caro, é quase sempre a sacrificada no rol dos materiais oferecidos.
Mesmo assim, a iniciativa da Versátil é digna de elogios. As produções de Hayao Miyazaki são excelentes, mas até hoje alguns de seus filmes permanecem inéditos no Brasil. Na década de 1990, na febre provocada pelo fenômeno dos Cavaleiros do Zodíaco, as empresas de vídeo lançaram várias animações no mercado nacional. A Flashstar, empresa que mais apostou no segmento, trouxe na época duas produções do Ghibli: Meu Amigo Totoro, e Porco Rosso. Alguns anos depois, houve a expectativa da Disney lançar Princesa Mononoke, mas a distribuidora do Mickey simplesmente engavetou o filme para nunca lançá-lo por aqui. Já nos últimos tempos os fãs tiveram mais sorte, com algumas das mais recentes produções do estúdio sendo lançadas por outras empresas de vídeo, como "A Viagem de Chihiro" e "O Reino dos Gatos" (Europa Filmes), "O Castelo Animado" e "Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar" (Playarte), e "O Mundo dos Pequeninos" (Califórnia Filmes). Mas ainda há vários outros filmes produzidos pelo Studio Ghibli que continuam inéditas por aqui, como o clássico "Laputa, o Castelo dos Céus", e "O Túmulo dos Vagalumes". Em que pese a falta de dublagem em dois dos filmes, o trabalho artístico de confecção das capas tanto dos boxes quanto dos DVDs e Blu-rays ficou excelente, e o rol de extras contidos nos discos contém vários materiais interessantes não só para os fãs do Ghibli como de quem aprecia animações para cinema.
 Nascido em Tóquio em 1941, Hayao Miyazaki iniciou sua carreira profissional na Toei Animation na década de 1960, trabalhando em diversas funções no estúdio até o início da década seguinte, quando deixou a empresa para seguir novos caminhos. Ao fim da década, ele dirigiria sua primeira produção, Mirai Shonen Conan, para TV, e o longa animado "Lupin III: O Castelo de Cagliostro", que lhe deu fama na área de animações. Posteriormente, também dirigiu parte dos episódios da segunda série de TV de Lupin, ao mesmo tempo em que desenvolvia o mangá de Nausicaä, que em 1984 seria lançado nos cinemas japoneses como um longa animado dirigido pelo próprio Miyazaki, obtendo um sucesso estrondoso, e permitindo ao diretor criar seu próprio estúdio de animação: era a fundação do Studio Ghibli, em parceria com Isao Takahata, com quem já trabalhava desde o início dos anos 1970. Em 1986, era levado aos cinemas o primeiro longa criado após a fundação do Ghibli, Laputa, que também obteve um sucesso enorme nos cinemas nipônicos. E de lá para cá então, a fama de boas e excelentes produções do estúdio de Miyazaki não pararam de crescer. Totoro, personagem do filme lançado em 1988, passou a ser utilizado como símbolo do Studio Ghibli, que até hoje segue firme como sinônimo de animação de qualidade no Japão.
Profissional das antigas, não é difícil entender o porquê dos filmes do Ghibli serem tão bem-sucedidos: Miyazaki gosta de contar uma boa história, e procura desenvolver bem os roteiros das produções, dando-lhes profundidade e consistência. Ele condena o excesso de tecnologia empregado em algumas produções atuais, e a falta de criatividade das histórias de muitas animações recentes produzidas no Japão, vítimas do excesso de exploração econômica de editoras e estúdios em cima das séries desenvolvidas por muitos artistas, reclamando das muitas imposições que estes artistas costumam sofrer no meio, muitas vezes impedindo-os de desenvolverem boas histórias em prol da celeridade dos lucros. Apesar da grande fama já conquistada no Japão e em boa parte do Oriente, seu nome ainda luta para conquistar o merecido respeito em determinados locais do Ocidente
Depois do megassucesso de Princesa Mononoke, que bateu todos os recordes de bilheteria no Japão até ser destronado pelo filme "Titanic" de James Cameron, Miyazaki prometeu que iria se aposentar. Para a felicidade de todos os amantes da animação, até hoje ele nunca conseguiu manter a promessa, mantendo-se em plena atividade, apesar de já ter prometido várias vezes nos últimos anos que iria mesmo parar. Com cerca de 73 anos, sua aposentadoria de fato pode estar próxima, mas enquanto ele mantiver sua paixão pelo trabalho e sua integridade e criatividade intacta, podemos contar com sua participação em muitos projetos ainda.
A iniciativa da Versátil de trazer algumas das obras mais relevantes do Ghibli, e que ainda permaneciam inéditas no Brasil - à exceção de Totoro, credencia este feito a ser tratado como um dos lançamentos mais importantes do ano no mercado de vídeo nacional. Espera-se que o lançamento seja bem-sucedido, e que isso traga a esperança da distribuidora tentar repetir a dose trazendo mais alguns filmes de Miyazaki, pois vários deles ainda são totalmente desconhecidos por aqui, mas todos muito bem-feitos e de qualidade artística comprovada.

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