sábado, 8 de março de 2014

TÚNEL DO TEMPO - AGOSTO DE 1996 - I



            De volta com a sessão "Túnel do Tempo", trago esta matéria que foi publicada em agosto de 1996. O assunto eram as revistas informativas que haviam inundado o mercado nacional a partir de 1995, trazendo informações sobre animação, quadrinhos, seriados e afins, um nicho de mercado que há muito necessitava de veículos de informação e até então era ignorado em nosso país, até que em dezembro de 1994 surgiu a revista HERÓI, e que foi um sucesso tão avassalador que não demorou para surgirem outras revistas apostando no mesmo mercado consumidor. Eram tempos pré-internet, então, estas revistas, por mais fracas que fossem, já eram um oásis para os fãs e leitores, uma vez que a informação sobre estes segmentos eram raras, ignoradas pelas demais revistas de notícias, e pouco publicadas até mesmo em jornais, salvo quando havia algum evento relevante. Fiquem agora com o texto, e boa leitura...


HERÓIS, QUADRINHOS & CIA.

Publicações sobre heróis, quadrinhos, TV, cinema e similares invadem as bancas de todo o país.

Adriano de Avance Moreno

            Se você curte super-heróis e demais tipos de personagens, sejam dos quadrinhos, da TV, do cinema, ou de áreas afins, já deve ter notado que, de uns tempos para cá, surgiram no mercado editorial brasileiro diversas publicações destinadas a esta área da indústria do entretenimento. Se está pensando em gibis com histórias em quadrinhos, enganou-se. Estas novas revistas são sobre o gênero dos quadrinhos, além de TV e cinema, e todas as suas ramificações, não gibis.

            Como é do conhecimento geral, muita coisa no Brasil deixa a desejar em relação aos países do Primeiro Mundo. O mercado editorial, por exemplo, é uma delas. Nos Estados Unidos, a indústria geral do entretenimento é muito forte e diversificada, especialmente no quesito dos quadrinhos e áreas de atividade correlacionadas, como filmes, seriados, animação, jogos, etc. Este segmento movimenta cifras enormes, sem falar que os acontecimentos do setor são devidamente noticiados e divulgados em larga escala, junto ao público consumidor.

            Como não poderia deixar de ser, existem publicações especializadas que falam apenas deste setor da indústria de entretenimento, como quadrinhos, TV, cinema, etc. No Brasil, este tipo de mercado editorial sempre foi quase inexistente, até que começou recentemente a ser explorado.

O lançamento da Herói N° 1 em dezembro de 1994 deu início à febre das revistas informativas no mercado editorial nacional.
            Tudo começou em dezembro de 1994, quando, na onda da popularidade da série japonesa CAVALEIROS DO ZODÍACO, surgiu uma revista que destinava-se exclusivamente a tratar do gênero super-heróis & cia., fossem eles de qualquer origem. Nascia assim a revista HERÓI. Publicada pela recém-fundada Editora ACME, em parceria com a Nova Sampa Diretriz Editorial, a nova publicação trazia reportagens sobre os desenhos animados na TV, sagas de super-heróis dos quadrinhos, projetos de cinema, etc, toda uma infinidade de matérias ligada ao tema dos heróis da ficção. A empreitada deu mais do que certo, e a revista, com periodicidade semanal, já ultrapassava a marca de 100 mil exemplares vendidos por edição, um número impressionante para uma publicação tão nova, ainda mais explorando um mercado até então praticamente inexistente no país.

            Como não poderia deixar de ser, logo surgiram outras publicações similares, tendo como base o universo dos super-heróis e afins. A primeira publicação a surgir após a "Herói", então, foi a revista ANIMAÇÃO, especializada, como diz o nome, em animações, e tudo ligado a este ramo em particular da indústria de entretenimento. Publicada mensalmente pela Ediouro, a revista tinha periodicidade mensal, mas com a virtude de ser publicada em formato grande, ao contrário das demais publicações concorrentes, que foram lançadas em "formatinho". Com matérias fracas de início, a revista progrediu bastante, apresentando matérias mais elaboradas e com boa diagramação.

            Em junho de 1995, veio a surgir outra publicação, a revista HERÓIS DO FUTURO, editada pela Editora Press Talent. Com periodicidade semanal, era a mais elaborada graficamente, sendo impressa em papel de excelente qualidade, e um design de primeira, caprichando no uso da diagramação e das cores. O tema, assim como o da revista "Herói", não poderia ser outro: trazer matérias sobre os heróis e similares, abordando tudo sobre o assunto.

            Junto com a "Heróis do Futuro" surgiu também outra revista, editada pela Nova Sampa, JAPAN FURY, produzida pelo Estúdio PPA, especializada em produções japonesas. Diferente das concorrentes, esta revista destacou-se por trazer matérias exclusivamente sobre personagens japoneses, fossem dos animes, ou dos mangás, ou da TV e cinema nipônicos. Outro destaque da revista eram seus textos, todos escritos com um estilo próprio e cativante, criticando abertamente os defeitos de alguma série, elogiando seus pontos bons, e até fazendo algumas piadas no meio das matérias. Como a "Animação", a "Japan Fury" também era uma publicação mensal.

            Em agosto de 1995, mais uma publicação surgiu: a GERAÇÃO TEEN/ZIG & ZAG, de publicação mensal, pela Editora Escala. Publicada em formato americano, a revista mesclava reportagens sobre heróis com matérias sobre esportes radicais, como skate, jiu-jitsu, etc. Música também estava na parada. Mas a Editora Escala foi ainda mais longe, e lançou mais revistas informativas. A primeira, batizada de MASTER COMICS, inovava no formato: além de matérias sobre super-heróis, trazia também histórias em quadrinhos, todas de autoria nacional, mesclando o formato "gibi" com revista especializada. Destaque para a chance que era dada aos artistas nacionais de quadrinhos, algo muito raro no mercado editorial brasileiro. A outra publicação foi a COMICS GENERATION, destinada exclusivamente a trazer matérias sobre quadrinhos. Ambas as publicações têm periodicidade mensal.

            A última investida neste setor foi da Nova Sampa, que lançou em julho último a revista MANGÁ MANIA. Como o nome diz, destina-se a trazer matérias exclusivas dos heróis japoneses e tudo o que houver sobre o gênero, em anime e mangá. A revista é mensal, e possui uma boa diagramação.

            O mercado explorado mostrou o potencial das novas revistas. Só a revista "Herói", pioneira no gênero, alçou vôo baseada quase que exclusivamente baseada no sucesso dos Cavaleiros do Zodíaco, mas desde que a série terminou e entrou em reprise, a revista ainda mantém sua força e público leitor, mesmo sem trazer mais novidades dos defensores de Athena & cia. Cada edição tem venda estimada de cerca de 200 mil exemplares, um número excelente para o mercado editorial nacional.

            Algumas tentativas, entretanto, não deram certo. Com o sucesso da revista "Animação", a Ediouro tentou lançar outra revista, CAVALEIROS DO ZODÍACO, q     ue se propunha a trazer sinopses dos capítulos da série animada japonesa, aproveitando sua imensa popularidade, além de trazer pequenas matérias sobre outros desenhos. Nem a fama avassaladora da série dos defensores de Athena impediu que a nova públicação ficasse restrita à edição de estréia. Outra publicação a naufragar foi da Nova Sampa, que numa jogada temática original, lançou a revista VILÕES, destinada a falar somente dos bandidos enfrentados pelos heróis. Com ênfase, a publicação até enaltecia as "atitudes" e "qualidades" dos vilões, afirmando que "sem eles, os heróis não teriam todo o cartaz que sempre tiveram". Nada mais lógico. Mas a revista durou apenas 2 números, em mais uma derrota no currículo dos vilões para os heróis, agora no quesito publicação especializada.

Cavaleiros do Zodíaco: Publicação só durou um único número. Tentativa malsucedida da Ediouro.
            Enquanto isso, as demais publicações lançaram-se no desafio da concorrência. A pioneira "Herói" a partir da edição 76 mudou totalmente a sua diagramação, ficando com um visual mais moderno e arrojado, além de ganhar edições especiais em formato grande (denominada HERÓI SUPER), sem falar em novas publicações exclusivas para o mercado de games e músicas. A publicação, agora saindo exclusivamente pela Editora ACME, sem a parceria dos primeiros números com a Nova Sampa, já se aproxima de 90 edições, e mostra fôlego invejável, sendo até o momento a mais versátil das publicações do gênero.

            A "Heróis do Futuro" enfrentou uma total reformulação na sua redação e mudou sua periodicidae, de semanal, para quinzenal, mantendo, contudo, o mesmo nível de qualidade gráfica e editorial, e lançando até um fanzine para seus associados leitores.

            A "Japan Fury" acabou cancelada pela Nova Sampa, mas o Estúdio PPA, que produzia a revista, retornou em grande estilo ao mercado, agora na revista ANIMAX, publicada pela Editora Magnum. Para delírio dos leitores amantes das produções japonesas, a revista manteve as mesmas características da antiga "Japan Fury", mas melhorou muito no visual e na diagramação. A antiga editora, Nova Sampa, sentiu a perda por cancelar a "Japan Fury", e agora tenta manter sua fatia no mercado com a nova revista MANGÁ MANIA, de produção própria.

            Todas as demais publicações continuam a ser lançadas nos mesmos moldes originais, mas melhorando sempre a cada edição, pois a concorrência deste novo mercado, assim como a das revistas em quadrinhos propriamente ditas, é bem forte, obrigando os títulos a melhorarem sempre para continuarem atraindo a atenção do público leitor. HERÓI, ANIMAÇÃO, HERÓIS DO FUTURO, ANIMAX, COMICS GENERATION, MANGÁ MANIA, MASTER COMICS, etc... Se você é fã dos super-heróis e produções de quadrinhos, TV, cinema, etc, escolha a sua publicação e comece sua leitura!



AS REVISTAS DO MERCADO


Herói: A pioneira do gênero, desencadeou o lançamento de inúmeras outras publicações similares no mercado editorial brasileiro.

 Título: Herói

Editora: Editora ACME

Formato: Formatinho

Periodicidade: semanal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,95

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Animação, da Ediouro: Segunda publicação a surgir. Voltada em especial para os desenhos e animes. Única publicação em formato grande.
Título: Animação

Editora: Ediouro

Formato:  formatão

Periodicidade: mensal

Número de páginas:  32

Preço: R$ 3,50

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Heróis do Futuro, da Press Editora: A mais elaborada a nível de qualidade gráfica.
Título: Heróis do Futuro

Editora: Editora Press Talent

Formato: formatinho

Periodicidade: quinzenal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,95

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Animax: Especializada em animação e quadrinhos japoneses, é uma das melhores publicações.
Título: Animax

Editora: Editora Magnum

Formato: formatinho

Periodicidade: quinzenal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,95

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Título: Geração Teen/Zig & Zag

Editora: Editora Escala

Formato: formatinho

Periodicidade:  mensal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,95

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Comics Generation: Voltada exclusivamente para os quadrinhos.
 Título: Comics Generation

Editora: Editora Escala

Formato: formatinho

Periodicidade: mensal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,90

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Título: Master Comics

Editora: Editora Escala

Formato: formato americano

Periodicidade: mensal

Número de páginas: 52

Preço: R$ 2,90

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Mangá Mania: O mais recente lançamento, também voltado para os heróis japoneses.
Título: Mangá Mania

Editora: Nova Sampa

Formato: formatinho

Periodicidade: mensal

Número de páginas: 32

Preço: R$ 1,95

Vilões, da Nova Sampa, outra publicação de vida curta, mas com o mérito de dar uma "chance" aos vilões.

 


ATUALIZANDO: As revistas informativas manteriam sua popularidade por vários anos. Além daquelas mencionadas na matéria, surgiram várias outras algum tempo depois. Hoje, infelizmente todos aqueles títulos há muito sumiram das bancas. A crise de mercado surgida em 2003 ceifou a grande maioria, com a queda das vendas, enquanto outras foram devastadas por decisões editoriais de caráter duvidoso. O advento da internet e sua consequente popularização só pioraram o panorama, uma vez que o público alvo, cada vez mais sedento e impaciente por informação, passou a procurar as notícias na net, ao invés de esperar as revistas serem lançadas, dilema que até hoje é um desafio para as publicações atuais que ainda investem neste mercado consumidor, e que surgiram muito tempo depois daquela matéria. Por mais que a internet hoje realmente facilite, as revistas daqueles tempos deixaram saudades para muitos, e são guardadas com carinho por muitos que as compraram, como lembrança de seus tempos mais jovens, e de uma época onde era preciso buscar revistas para se informar, e não apenas sentar em frente a uma tela e digitar o que se procura...
 

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