terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MARVEL INICIA REPUBLICAÇÃO DE MIRACLEMAN



                Depois de mais de 15 anos de negociações, há pouco tempo atrás uma das maiores discussões de direitos sobre um personagem clássico de quadrinhos finalmente chegou a bom termo e ficou definido: a Marvel Comics iria trazer Miracleman de volta ao mercado. E a editora iniciou 2014 com o lançamento da primeira edição do personagem inglês, para alegria dos seus velhos fãs, que puderam, enfim, rever o antigo herói.
                MIRACLEMAN N° 1 inicia a mais nova publicação do personagem, que não era visto desde a falência da Eclipse Comics, há cerca de 20 anos atrás, última editora a lançar as aventuras do herói. Por enquanto, o título mensal da Marvel vai republicar na íntegra as fases anteriores, criadas por Alan Moore, seguidas pela fase de Neil Gaiman. Histórias inéditas, somente a partir de 2015, ainda sem data definida. A edição de estréia reimprime o material apresentado originalmente nas revistas "Warrior" N° 1, e "Miracleman" N° 1. O preço da edição é de US$ 5,99, e traz uma nova capa, além das artes originais totalmente digitalizadas e com os textos dos balões refeitos. Todas as histórias também foram recolorizadas, mas mantendo fidelidade à apresentação original.
                O personagem foi criado na Inglaterra pelo ilustrador e escritor britânico Mick Anglo em 1953 para a editora Len Miller & Son. A editora publicava as aventuras do Capitão Mavel, da Fawcett Comics. Mas, com o processo enfrentado pela Fawcett movido pela DC Comics de que o Capitão Marvel era um plágio do Super-Homem, a editora encerrou a produção de quadrinhos do herói. Para não perder o público leitor, a Len Miller & Son resolveu dar uma "maquiada" nos personagens, e produzir suas próprias histórias, usando a base da Família Marvel. Assim, Mick Anglo praticamente criou uma "cópia" do herói da Fawcett, mudando vários detalhes, e nomeando sua criação como "Marvelman". Na nova história, o jovem repórter Mick Moran (que tem a fisionomia quase idêntica à de Billy Batson, mas apresentando cabelo loiro, e não moreno) ganha superpoderes através de um cientista (ao invés do mago Shazam) ao pronunciar a palavra "kimota", e passa a agir como o super-herói Marvelman. Logo ele ganha a ajuda de Dicky Dauntless, um adolescente que se transforma no Young Marvelman; e de Johnny Bates, que se transforma no Kid Marvelman; ambos dizem a palavra mágica "Marvelman" para ganharem os super-poderes, cujas transformações também aconteciam através de um relâmpago, a exemplo do que Billy Batson, sua irmã Mary, e seu amigo Freddy Freeman faziam nas aventuras da Fawcett. Extra-oficialmente, no universo das histórias em quadrinhos, a antiga Família Marvel tinha "preferido" voltar a serem pessoas normais, e os "novos" personagens seriam seus sucessores. Forçado ou não, a empreitada deu certo, e os leitores ingleses puderam curtir inúmeras aventuras do "clone" do Capitão Marvel e seus novos parceiros de aventuras por vários anos. E pelo menos Mick Anglo criou um uniforme bem legal para o novo herói, diferenciando seu visual do velho Capitão.
                O personagem foi publicado até o início dos anos 1960, para retornar somente no início dos anos 1980, em uma nova série escrita por ninguém menos do que Alan Moore, que atualizou o personagem ao mesmo tempo em que manteve o conhecimento das aventuras originais vividas pelos personagens. Esta nova série, publicada pela Quality Communications, passou a ser uma das séries do novo título "Warrior", e mostrava um Mick Moran já adulto, que acaba redescobrindo sua identidade de super-herói, esquecida há muitos anos, passando a ver seu mundo atual virar literalmente de cabeça para baixo, ao descobrir que muita coisa de seu passado nunca foi como imaginava. Esta série foi muito elogiada pelos leitores, pela maneira adulta e trágica como o personagem foi mostrado, acabando com aquele ar inocente das aventuras de antigamente. Marvelman precisou lidar com acontecimentos dolorosos envolvendo seus próprios amigos e aliados, e tendo de fazer escolhas difíceis. Alan Moore engrandeceu o personagem a tal ponto que nem se mencionava mais sua origem como uma espécie de "plágio" do velho Capitão Marvel como um demérito. Marvelman, enfim, ganhava aura própria.
                A série foi encerrada de forma prematura, sem uma conclusão, na edição N° 21 de Warrior. Pouco tempo depois, a editora americana Eclipse Comics adquiriu os direitos de publicação do personagem, e passou a publicar novas aventuras, ainda com roteiros escritos por Alan Moore, que deu sequência ao trabalho desenvolvido na revista Warrior. Esta nova série também marcou a mudança do nome do personagem para Miracleman, uma vez que a editora Marvel Comics havia feito o registro do nome "Marvel", de modo que ele não poderia mais ser utilizado para denominar uma série.
                Alan Moore deixou de escrever as aventuras do herói após a edição 16 da Eclipse, passando os roteiros a serem feitos por Neil Gaiman. A falência da editora, contudo, encerrou a publicação da revista, sendo a edição 24 a última lançada, apesar da história da edição 25 ter sido concluída. Em 1997, os direitos do herói foram adquiridos por Todd McFarlane, criador do Spawn e um dos fundadores da Image Comics. McFarlane pretendia ressuscitar o herói, mas nunca levou o projeto adiante, e sua insistência em manter os direitos iniciou um longo período de negociações por parte de interessados em republicar Miracleman, entre eles Mick Anglo, criador do personagem, Neil Gaiman, seu último roteirista, e a própria Marvel Comics, que tinha suas próprias idéias para o personagem. A batalha se desenrolou principalmente pelo fato de McFarlane ter adquirido os espólios da Eclipse, e para Gaiman, os direitos de Miracleman não estariam incluídos nestes espólios. As discussões prosseguiram praticamente pela década inteira, até que Mick Anglo conseguiu enfim os direitos de volta, e em negociação com a Marvel, a editora americana enfim adquiriu os direitos do personagem, em 2009, e prometeu trazê-lo de volta ao mercado dos quadrinhos, o que cumpriu neste início de 2014, com o lançamento desta nova série mensal que republica as aventuras originais do herói. E o melhor de tudo: a Marvel irá lançar a edição 25 do personagem, que teve a história finalizada, mas nunca publicada, e deverá dar sequência às aventuras desenvolvidas por Gaiman, após finalizar a republicação dos materiais da Warrior e da Eclipse, portanto, os fãs do herói que se preparem.
                No Brasil, Miracleman teve raríssimas aparições. Na década de 1950, quando a RGE publicava a revista do Capitão Marvel, o personagem chegou a ter algumas histórias publicadas na mesma revista, com o nome de Jack Marvel. Em 1989 e 1990, a pequena editora Tanos publicou 4 edições do herói, com arte em preto e branco, mostrando as aventuras da revista Warrior para o público brasileiro. E foi só.
                Fica agora a expectativa de a Panini, atual editora Marvel no Brasil, ter interesse de lançar este material no mercado nacional. O material desenvolvido por Alan Moore, e posteriormente por Neil Gaiman, é muito bom, e merece ser lançado de maneira decente em nosso país, que infelizmente sempre teve poucas opções de ler aventuras em quadrinhos de heróis ingleses. As chances podem ser boas de vermos tal material por aqui em médio prazo, afinal, com nomes do quilate de Moore e Gaiman no comando das histórias, é garantia de qualidade nos roteiros. Quem curtiu Watchmen e Sandman que o diga...
                Por enquanto, apenas podemos comemorar o retorno de Miracleman, e que tenha longa vida neste seu novo renascimento nos quadrinhos...

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